Textos
Assumindo meus moinhos
Não me tragam flores de plástico
nem absolvição em recibos
minhas escolhas pesam
como úteros cheios de pedras,
como calçados que sangram
a caminho do emprego.
Ergue-se a fábrica dos "deveria":
deveria calar,
deveria esperar,
deveria murchar
no vaso certo.
Mas eu carrego meus erros
como tatuagens vivas:
este filho que criei sozinha,
esta noite que queimei por prazer,
esta dor que afiei
contra meus próprios espelhos.
Ah, pecados! São grãos
no moinho dos meus ossos:
trituram culpa,
fazem farinha
do pão que como
sem pedir licença.
O confessionário é meu quarto,
meu salário mínimo,
minha garrafa de vinho
dividida com a Lua
e Deus, se existe,
é a cicatriz que ri
quando digo amém
ao meu próprio evangelho.
(Mulher que carrega moinhos
vira tempestade
e pão
e rio
e faca
e santa
e puta
e dona)
Ybeane Moreira
Enviado por Ybeane Moreira em 09/07/2025
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