Sinto que nasci com a missão  
de manter as palavras vivas
frágeis pássaros de papel,  
sempre à beira  
do esquecimento.  

Minhas mãos são gaiolas abertas:  
deixo que pousem nelas  
todas as sílabas fugitivas,  
as que sobraram dos incêndios,  
as que ninguém mais pronuncia.  

Dou-lhes asas novas,  
empresto-lhes minha voz.  
Se um dia me calarem,  
saberão que até o silêncio  
é uma palavra  
à espera de quem a decifre.