Há dias em que a vida  
escorre grossa demais,  
entope as cerdas,  
embarra no papel  
tanta cor querendo ser forma,  
tanto sentimento  
querendo contorno.  

E eu, pobre pintor de mim mesmo,  
tento domar o dilúvio  
com um pincel de espinhos,  
enquanto a tinta  
vermelha de paixão,  
azul de melancolia,  
amarela de inveja
escapa entre os dedos  
e mancha o chão  
de verdades não planejadas.  


se eu deixar que escorra,  
que se acumule em poças  
no assoalho da alma.  
Quem sabe,  
depois de seca,  
vire arte abstrata  
aquela que ninguém entende,  
mas todos comentam.