Meu sangue não é só vermelho  
é tinta escorrendo  
nas entranhas da história,  
letra cursiva  
escrita em carne viva.  

Minha voz não é só som  
é ponta de faca  
entalhando mármore liso,  
é o grito que ficou preso  
entre os dentes dos séculos  
e agora escorre,  
livre,  
para manchar o papel branco  
que queriam me dar  
como mortalha.  

Ah,mas não me calo mais!  
Escrevo com o que me doeu,  
desenho com as veias abertas,  
e cada palavra é um fio  
costurando o silêncio  
que tentaram me vender  
como virtude.  

Não há poesia sem ferida,  
nem verdade sem vestígio.  
O que sangra em mim  
não é fraqueza:  
é tinta.  
O que arde em mim  
não é fogo:  
é voz.  

E quando a noite vier,  
olhe para as minhas mãos –  
estão sujas de sangue,  
de tinta,  
de vida.  
E ainda assim,  
são as únicas  
que podem escrever  
o meu nome.