Textos
repouso
Já não paro em qualquer lugar.
A luz demais me corta,
feita faca sem cabo
e eu, que fui rio,
aprendi a ser margem.
Se há sombra, repouso.
Não qualquer sombra:
quero a que desce devagar,
feita pétala de árvore antiga,
a que sabe do meu cansaço
sem precisar de palavras.
O chão que piso agora
é mapa de escolhas:
não me deito onde o sol
esquenta pedras vazias.
Prefiro o canto úmido da tarde,
onde a terra ainda lembra
o cheiro da primeira chuva.
Sombra boa é abrigo
que não pede documento,
não exige explicação.
Ela apenas cai sobre mim
como um manto de silêncio,
e eu feita de pó e desejo
afundo sem medo.
Já não durmo em qualquer esquina.
Se não houver árvore,
espero a noite.
Ybeane Moreira
Enviado por Ybeane Moreira em 08/05/2025
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